Tentativas de se Isolar o princípio ativo!
Como se chegou ao d-9-THC! Em 1930, Cahn isolou o cannabinol - extraído a partir do óleo de Wood. Na época, acreditava-se que o cannabinol fosse o principal ingrediente ativo da cannabis. O químico americano Adams e o britânico Todd, na década de 1940, desenvolveram várias rotas sintéticas para análogos do cannabinol. Para sua surpresa, uma das rotas levou a um composto com intensa atividade biológica, muito maior do que o cannabinol. Era o d-9-THC (J. Amer. Chem. Soc. 1949, 71, 1624-1628). Dentre os vários derivados preparados, o d-9-THC era o mais ativo. Os químicos da época, então, desconfiaram que a cannabis deveria ter, também, este terpenóide. Entretanto, foi somente em 1964 que a primeira isolação do d-9-THC na forma pura ocorreu. Os químicos Gaoni and Mechoulam obtiveram, de uma extração com hexano de uma amostra de hashish, vários cannabinóides, entre ele o d-9-THC, na forma cristalina. A Ciência não parou mais... Maior até do que dos usuários, o interesse dos cientistas pela marijuana está sempre se renovando: todos ficam fascinados pelo poder que as substâncias contidas nesta planta exercem sobre o homem. Entretanto, foi somente em 1988 que a pesquisa sobre a maconha deu um grande salto: Howlett et al. (Mol. Pharmacol. 33, 297-302) descobriram a existência de neurorecpetores para os compostos cannabinóides: isto é, determinados grupos de proteínas existentes em alguns neurônios cujo objetivo era unicamente o de se ligar a compostos com estrutura química semelhante a dos cannabinóides. Howlett chamou estes receptores de CB1; em 1993, outro grupo de receptores para cannabinóides foi descoberto, desta vez por Munro et at. (Nature 1993;365:61). Munro chamou este novo grupo de receptores como CB2. Era quase inconcebível para a maior parte dos neurologistas que o cérebro animal fosse gastar parte de seus nutrientes e mecanismos simplesmente para elaborar um receptor para uma substância provinda de uma planta. Tal como com a morfina, a descoberta de receptores biológicos para cannabinóides exógenos levantou a possibilidade para a existência de cannabinóides endógenos. Muitos químicos e bioquímicos, então, focaram seus esforço no sentido de descobrir candidatos a ocupar esta posição: cannabinóides endógenos. O primeiro ligante cannabinóide endógeno a ser isolado foi a etanolamida da arachidonila, chamada de anandamida. O nome vem da palavra "ananda", cujo significa em sânscrito é "prazer". Tão logo esta descoberta foi anunciada, centenas de veículos de comunicação publicaram manchetes como "Descoberta a molécula do prazer", ou "Cérebro produz maconha". Obviamente, um péssimo jornalismo científico, como sempre. Na verdade, a anandamida tem poucos efeitos similares ao THC, além de ser facilmente hidrolisada quando em contato com o receptor. Porém, várias situações estimulam o organismo a despejar grandes quantidades de anandamida nas fendas sinápticas: autores sugerem que esta droga esteja relacionada a momentos de relaxamento, prazer e calma. Um derivado sintético da anandamida - a metanandamida - possui uma potência mais elevada e maior estabilidade e mostrou-se portadora de grande efeito fisiológico. Outros derivados eicosanóides capazes de se ligarem aos receptores cannabinóides já foram isolados dos mais distintos tecidos humanos. Entre estes, o 2-arachidoniglicerol, considerado um dos mais potentes cannabinóides endógenos. |