Consumo Responsável


Este é um dos temas mais polêmicos na área do uso do álcool e saúde. Não é ambição do CISA definir com detalhes e segurança absoluta os termos, medidas, conceitos que são debatidos pela comunidade científica intensamente. Por outro lado, é nosso objetivo apresentar os diferentes conceitos para que o leitor possa de forma tranqüila e madura escolher aquele que melhor couber as suas ambições.

O consumo responsável de álcool não é um termo fácil de ser definido, já que ele pode dar margem a diferentes entendimentos de acordo com o nível de informação, contexto e ambição do indivíduo. De acordo com o dicionário Aurélio Buarque de Holanda1, o indivíduo responsável é aquele que: a) responde pelos próprios atos ou pelos de outrem, b) responde legal ou moralmente pela vida, pelo bem-estar de alguém, c) tem noção exata de responsabilidade, que se responsabiliza pelos seus atos, que não é irresponsável, d) dá lugar a, que é causa de algo e e) indivíduo faltoso, culpado. O consumo responsável de bebidas alcoólicas está associado a idéia de que o indivíduo está ciente das conseqüências negativas que podem ocorrer com o uso do álcool e adota medidas para reduzi-las ou minimizar a gravidade das mesmas, assumindo um risco "responsavelmente". Este entendimento está, entre outros aspectos, ligado a quantidade de doses de álcool considerada aceitáveis para que o indivíduo não cause prejuízos a si e aos outros. Neste sentido, pode-se relacionar a idéia de consumo responsável com a concepção de consumo aceitável defendida pela Organização Mundial de Saúde e de consumo moderado defendida pelo Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos e pelo Departamento Americano de Agricultura (U.S. Department of Health and Human Services, U.S. Department of Agriculture).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece que para se evitar problemas com o álcool, o consumo aceitável é de até 15 doses/semana para os homens e 10 doses/semana para as mulheres, sendo que 1 dose* contém de 8 a 13 gramas de etanol.2 Os homens não devem ultrapassar o consumo de 3 doses diárias de álcool e as mulheres duas doses diárias, sendo que tanto homens quanto as mulheres não devem beber por pelo dois dias na semana.
A OMS ainda esclarece que em algumas situações, o uso do álcool não é recomendado nem em pequenas quantidades. Dentre elas se encontram:

 

Mulheres grávidas ou tentando engravidar
Pessoas que planejam dirigir ou que estão realizando tarefas que exijam alerta e atenção como a operação de uma máquina
Pessoas em uso de medicações
Pessoas com condições clínicas que podem ser pioradas com o uso do álcool como a hipertensão e o diabetes
Alcoolistas em recuperação
Menores de 18 anos

O Departamento Americano de Saúde e Serviços Humanos e o Departamento Americano de Agricultura através de seu guia em saúde e alimentação3 esclarecem que as bebidas alcoólicas fornecem calorias, mas pouco ou quase nenhum nutriente. Além deste aspecto, o guia enfatiza que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas pode produzir efeitos maléficos como a pressão alta, derrames, doenças cardiovasculares, alguns tipos de cânceres, acidentes, violência, suicídio, defeitos congênitos, cirrose hepática e inflamação do pâncreas. O guia sugere que o indivíduo que quiser beber deve fazê-lo com moderação, sendo que um dos efeitos benéficos do consumo moderado é a diminuição do risco de problemas coronarianos. O guia define moderação como não mais que uma dose diária de bebida alcoólica para as mulheres e não mais que duas doses para os homens. De acordo com o guia, não devem beber:

Crianças e adolescentes
Indivíduos de qualquer idade que não conseguem fazer apenas um uso moderado de álcool. Especial atenção deve ser feita a alcoolistas em recuperação e a indivíduos que tenham familiares com problemas relacionados ao álcool
Mulheres grávidas
Indivíduos que planejam dirigir ou se envolver em atividades que seja necessário estar atento e alerta
Indivíduos em uso de medicação

O National Institute of Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA) utiliza o termo "beber moderado" para se referir ao consumo com limites onde não há prejuízos ao indivíduo e sociedade4. O NIAAA esclarece que o termo "beber moderado" é geralmente utilizado para descrever a quantidade e freqüência do uso de álcool quando comparado ao não uso (abstinência) ou o abuso de álcool, mas enfatiza que estas definições podem ser problemáticas por não levarem em conta as possíveis conseqüências maléficas e benéficas ao individuo decorrentes do uso de álcool a longo prazo. De acordo com o NIAAA, a definição de consumo moderado pode variar de acordo com o indivíduo e contexto, sendo possível encontrar estudos que falam em consumo moderado de uma dose/dia a 5 doses/dia. O NIAAA aponta que dificuldades relacionadas à definição de uso moderado de álcool é até certo ponto resultado das diferenças individuais, ou seja, a quantidade de álcool que uma pessoa pode consumir sem estar intoxicada varia de acordo com a experiência, tolerância, metabolismo, vulnerabilidade genética, estilo de vida e tempo em que o álcool é consumido (três doses em uma hora produz uma concentração de álcool no sangue muito maior do que três doses no curso de três horas).

*Uma dose equivale a aproximadamente 285 ml de cerveja, 120 ml de vinho e aproximadamente 30 ml de destilado (whisky, vodka, pinga).