Álcool na Adolescência

Como já apontado que o primeiro episódio de intoxicação alcoólica pode ocorrer na adolescência, pesquisas têm procurado identificar padrões de início de uso de drogas ilícitas e álcool em adolescentes, estudantes e adultos jovens, além de fatores de riscos; por exemplo, (KANDEL, SINGLE & KESSLER, 1976; KANDEL & LOGAN, 1984; ROBINSON, CHEN & KILLEN, 1998; POIKOLAINEN, 2000; BIEDERMAN, FARAONE, MONUTEAUX & FEIGHNER, 2000; HEMMINGSSON & LUNDBERG, 2001).

Estudos epidemiológicos realizados no Brasil com estudantes de diferentes níveis de ensino revelaram alta prevalência de uso de substâncias psicoativas, principalmente as drogas lícitas. Entre universitários da cidade de São Paulo as drogas utilizadas alguma vez na vida em ordem decrescente foram o álcool, tabaco, inalantes, maconha, medicamentos prescritos e cocaína (CARLINI, CARLINI-COTRIM, SILVA FILHO & BARBOSA, 1990; MAGALHÃES, BARROS & SILVA, 1991).

Estudo piloto com adolescentes usuários que buscaram atendimento ambulatorial mostrou que o uso de drogas se iniciou, em média, aos 11,67 anos com o consumo de álcool, o uso regular aos 13,22 anos, evoluindo para o uso do tabaco (12 anos), maconha (13,40 anos), inalantes (13,92 anos) cocaína via inalatória (14, 36 anos), crack (14,67 anos), alucinógenos (15,33 anos) e cocaína endovenosa (16 anos). Na amostra estudada, embora o álcool tenha sido a primeira droga consumida, foi à última a apresentar uso problemático (SCIVOLETTO, HENRIQUES JR. & ANDRADE, 1997).

De acordo com dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), pesquisa com estudantes de 1 º e 2 º Graus de 10 capitais brasileiras, 65% dos entrevistados afirmaram consumo de bebidas alcoólicas, dos quais 50% iniciaram o uso entre os 10 e 12 anos de idade (GALDURÓZ, NOTO & CARLINI, 1997).

Pesquisa envolvendo as 24 maiores cidades do Estado de São Paulo (cidades com mais de 200 mil habitantes) revelou que o uso na vida de álcool na faixa etária de 12 a 17 anos foi de 37,7% para o sexo masculino e 32,3% para o sexo feminino e o uso regular foi de 0,7% para o sexo masculino e de 1,9% par a o feminino. Na mesma faixa etária a prevalência de dependentes de álcool foi de 5,3% para o sexo masculino e de 2,5% para o sexo feminino (GALDURÓZ, NOTO, NAPPO & CARLINI, 2000).

A prevalência de casos de alcoolismo entre garotas tem aumentado, bem como o envolvimento em acidentes de carro quando embriagadas. Isso significa que vem ocorrendo uma mudança de comportamento na última década: as garotas têm mais liberdade para freqüentar locais e eventos onde se consome bebida alcoólica antes mais restrito a adolescentes do sexo masculino, aprendendo, então, os mesmos comportamentos de consumo (Citado por ZAKABI, 2002).

Conforme apresentado na tabela 1, numa amostra de 28 indivíduos com limite de idade de 53 anos e com escolaridade a partir do ensino médio, em tratamento em ambiente protegido no Instituto Bairral de Psiquiatria por dependência de álcool, 25% (n = 7) iniciaram o uso de bebida alcoólica antes dos 15 anos e 46,42% (n = 13) iniciaram entre os 16 e 20 anos, totalizando 71,42% (n = 20) da amostra (n = 28) (ZAGO, 2002).

A alta taxa de prevalência do início do uso do álcool na adolescência, com evolução para a dependência, se assemelha com resultados obtidos por SONENREICH (1971) há mais de 30 anos, os quais apontaram que 15,3% (n = 32) de pacientes alcoolistas do sexo masculino internados iniciaram o uso do álcool na faixa etária de 11-15 anos e 56,2% (n = 122) entre 16-20 anos.

Ainda na tabela 1 pode ser observado também que na ocasião do tratamento em ambiente protegido, onde 50,0% (n = 14) estavam internados pela primeira vez e a outra metade da amostra já havia tido mais de uma internação na vida, 32,14% (n = 9) estavam na faixa etária de 31 a 40 anos e 60,71% (n = 17) na faixa etária de 41 a 53 anos. Considerando que 71,42% (n = 20) começaram a usar bebida alcoólica antes dos 20 anos, a evolução para configurar o quadro de alcoolismo compreendeu o período de 11 a 30 anos. Do início do uso na adolescência até a fase de configuração do quadro de alcoolismo e o tratamento em ambiente protegido, provavelmente essas pessoas se defrontaram com sérios problemas na vida familiar, social, escolar e ocupacional. Como já apontado, embora o álcool possa ser considerado a droga de mais fácil acesso, em geral ele é o último a ocasionar problemas.